O processo adaptativo, inerente à especiação e evolução das espécies é
de longe o tema mais complexo da Evolução. Nem tanto pelo processo em
si, mais pelo significado culturalmente concebido, e amplamente mal
atribuído, da palavra adaptação na tentativa de explicar as teorias
evolutivas de Lamarck e Darwin.
Culturalmente adaptar-se a uma
determinada situação significa ajustar-se, adequar-se, acostumar-se a
ela, modificar-se voluntariamente para atingir o objetivo proposto,
enquadrar-se em um sistema, em um meio. Adaptação significa ajustamento
às novas condições impostas pelo meio.
Conforme já detalhado nos
textos anteriores, Lamarck juntou evidências para explicar que os
animais sofriam pressões ambientais que os forçavam a modificar suas
estratégias de vida, e conseqüentemente suas características
morfológicas, como sendo a única maneira de sobreviver no ambiente aos
quais estavam inseridos. Ficou claro então que os indivíduos se
adaptavam, no sentido literal da palavra, ao meio ambiente conforme este
lhes exigia.
Entretanto Darwin, a partir de suas evidências,
considerou a existência de mais uma força que modificava os seres vivos,
interna agora, responsável por promover mudanças orgânicas. Porém ele
também manteve a idéia da força externa produzida pelo meio ambiente
conforme Lamarck já havia dito. Mais do que isto, ele percebeu que o
equilíbrio destas duas forças era o responsável pela seleção natural e,
portanto, pela adaptação dos seres vivos.
É justamente neste ponto
que Darwin não colaborou em suas explicações e é freqüentemente mal
interpretado. Ele deixou que se compreendesse que a adaptação dos seres
vivos fosse um processo no qual a modificação interna ficasse
subentendida no conceito.
Assim ele sugeriu que as modificações
internas, sujeitas à força externa do ambiente eram responsáveis pela
seleção natural e, portanto pela adaptação e sobrevivência dos
indivíduos em determinado meio ambiente. Desde que a modificação interna
fosse compatível com a força externa o indivíduo seria selecionado
naturalmente e sobreviveria, sendo considerado mais apto. Caso
contrário, se a modificação interna não fosse compatível com o ambiente,
o indivíduo detentor desta modificação não era selecionado, era
considerado menos apto e morria sem perpetuar sua prole e, portanto, sua
espécie.
É importante notar que tal efeito não dependia
exclusivamente da capacidade de adaptação no sentido literal da palavra,
não cabia aos indivíduos querer escolher ajustar-se ao ambiente apenas.
Era necessário que a modificação interna tivesse acontecido, e mais do
que isto, que esta mudança, sob ação da força externa, fosse selecionada
como apta ao ambiente.
Infelizmente Darwin e Mendel não se
conversaram, muito embora haja quem diga que eles tenham trocado algumas
figurinhas sem obter a compreensão da interferência positiva que um
poderia ter provocado nas idéias do outro e vice-versa. Mendel teria
dito à Darwin que a modificação interna era na verdade uma modificação
nos fatores, nome atribuído por Mendel ao que mais tarde viria a ser
conhecido por genes.
A teoria sintética da evolução, também conhecida
por síntese evolutiva moderna, síntese moderna, síntese evolutiva,
síntese neodarwiniana ou neodarwinismo, foi formulada a partir da
contribuição de muitos pesquisadores modernos que se apropriaram dos
conhecimentos da genética mendeliana e populacional para elucidar o
processo evolutivo.
Nem por isso a palavra adaptação deixou de ser
empregada pelos novos evolucionistas, e continua sendo utilizada para
referir que primeiramente ocorre uma mutação genética que é
posteriormente selecionada pelo meio ambiente. Atualmente compreende-se
que um indivíduo ou espécie adaptada ao meio é aquele cuja mutação
genética aleatória, ou não, lhe foi favorável o suficiente para que o
ambiente o selecionasse natural ou artificialmente, permitindo sua
sobrevivência. O que é muito diferente de meramente imaginarmos que os
seres vivos simplesmente se adaptem, ajustem, acostumem a uma nova
situação, ou ambiente, por vontade própria.
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